O que aprendi com um feedback negativo

Carol Dweck é uma psicóloga americana que dedicou grande parte de sua carreira ao estudo da mentalidade humana. Em suas pesquisas, ela identificou duas mentalidades: a fixa e a de crescimento. Essas duas formas de pensar têm implicações em como as pessoas lidam com os desafios, o fracasso e o sucesso.

No livro “Mindset: a nova psicologia do sucesso”, a autora explica que a mentalidade fixa acontece por uma crença de que as habilidades das pessoas são fixas e imutáveis. Ou seja, pessoas com essa mentalidade acreditam que seus talentos são inatos e não podem ou não precisam ser desenvolvidos. 

A mentalidade fixa pode levar a uma série de comportamentos negativos, como o medo de desafios, o medo do fracasso e a tendência a se comparar com os outros. Ela pode causar também um ciclo de baixa autoestima e falta de motivação quando surge alguma dificuldade.

Por sua vez, a mentalidade de crescimento envolve a crença de que as habilidades e características das pessoas podem ser desenvolvidas com a dedicação e a vontade de aprender com os erros. Por conseguinte, você se sente mais propenso a buscar desafios e tende a ser mais perseverante, além de lidar melhor com feedbacks (positivos ou negativos). 

Não concordar com um feedback negativo é sinônimo de mentalidade fixa?

feedback negativo

É normal termos receio de recebermos um feedback negativo no trabalho. Quando isso acontece, não necessariamente se trata de uma situação “justa”. Eu já lido há algum tempo com feedbacks de clientes sendo redatora freelancer e até mesmo na produção de design, embora essa não seja a minha especialidade. 

Certa vez, eu fiz a diagramação de um e-book para um cliente. Após a entrega ele disse que não tinha gostado da capa, mas não explicou o porquê. Ele não tinha um manual de marca e não quis responder o briefing para alinharmos a produção do material. Apesar disso, mandei outras três sugestões de capa e ele disse novamente que não gostou, mas sugeriu algumas ideias de capas que ele achava interessantes. 

Em seguida, enviei mais 15 sugestões de capa para o e-book, a maioria similares aos modelos que ele havia sugerido, mas ele simplesmente disse que não tinha gostado de nenhuma, não deu uma explicação e o projeto foi finalizado. 

Ele pagou pelo trabalho (que não era só a capa, incluía a diagramação do e-book), mas me senti muito mal, mesmo sabendo que eu já havia trabalhado com outros clientes na criação de e-books e os feedbacks tinham sido positivos.

Fiquei um tempo sem procurar projetos para criar e-books, porque comecei a acreditar que não era boa o suficiente. Seria um sinal de uma mentalidade fixa? Provavelmente sim. 

Por outro lado, hoje não encaro o feedback negativo daquele cliente necessariamente como uma “oportunidade de aprender com os erros”, até porque ele nem quis responder o briefing que poderia ter encurtado todo o processo. 

Vejo aquela experiência como um cliente que não sabia exatamente o que queria (ou, pelo menos, não soube explicar o que queria). De modo contrário, quando se trata de um feedback construtivo, podemos identificar oportunidades melhorias. 

Apesar de ter recebido uma crítica daquele cliente, isso não me impediu de continuar fazendo cursos e aprimorando meus conhecimentos na área de design, mesmo que essa não seja minha ocupação principal. 

Inclusive, estou fazendo dois cursos de design no Canva com mais de 300 aulas no total, porque gosto de aprender e porque, eventualmente, consigo clientes nessa área. 

Se pensarmos em J.K. Rowling, por exemplo, é perceptível sua mentalidade de crescimento. Ela enfrentou mais de dez rejeições em editoras literárias que não acreditavam em seu potencial e hoje é uma das autoras mais bem-sucedidas com a série “Harry Potter”.

Outro exemplo é Walt Disney, que foi demitido de um jornal por “falta de imaginação e boas ideias”. Ele criou uma das maiores companhias de entretenimento do mundo.

Steven Spielberg  foi rejeitado três vezes pela Escola de Artes Cinematográficas da Universidade do Sul da Califórnia, mas isso não o impediu de persistir em sua paixão pelo cinema.

Não ter medo de feedbacks é uma forma de estarmos abertos a outros pontos de vista, inclusive para entendermos quando um feedback não faz muito sentido. E não concordar com um feedback negativo, dependendo das circunstâncias, não necessariamente é sinônimo de mentalidade fixa. 

Como desenvolver uma mentalidade de crescimento?

O primeiro passo para desenvolvermos uma mentalidade de crescimento é identificar qual é a nossa mentalidade. Para isso, você pode responder essas perguntas:

  1. Você acredita que suas habilidades não podem ser desenvolvidas?
  2. Você evita situações que possam expor suas fraquezas?
  3. Você se sente desencorajado quando enfrenta desafios difíceis ou quando falha em uma tarefa?
  4. Você se compara constantemente com os outros e se preocupa com o que eles pensam de você?
  5. Você acredita que o sucesso é determinado principalmente pela sorte ou por fatores externos, fora do seu controle?
  6. Você tende a se contentar com o status quo em vez de buscar oportunidades de crescimento e desenvolvimento?
  7. Você tem medo de receber feedbacks negativos ou críticas?
  8. Você tende a culpar os outros ou as circunstâncias por seus fracassos?
  9. Você está aberto a aprender coisas novas e experimentar novas abordagens para resolver problemas?
  10. Você vê as dificuldades como oportunidades de aprendizado, em vez de obstáculos intransponíveis?

Se você respondeu sim para as oito primeiras perguntas, pode significar que tem uma mentalidade fixa. Já se respondeu sim às duas últimas, pode ser que tenha uma mentalidade de crescimento. Vale lembrar que essas perguntas são apenas um guia e não uma avaliação completa da sua mentalidade.

Dweck acredita que todas as pessoas têm os dois tipos de mentalidade, mas uma delas se manifesta de modo mais evidente que a outra. Na opinião da autora, o ideal é que a mentalidade de crescimento se sobressaia para quem deseja alcançar seus objetivos. 

Ela diz que as pessoas de mentalidade fixa acreditam erroneamente que sucesso significa ser necessariamente mais talentoso que os outros, que uma situação de fracasso realmente mede o que você é e que apenas pessoas sem talento precisam se esforçar. 

De forma bem resumida, para ter uma mentalidade de crescimento, segundo Dweck, precisamos parar de acreditar que não somos capazes. 

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