Escrever é fácil ou difícil? Encontre a resposta
Ao contar uma história com o objetivo de criar uma conexão com o público, para algumas pessoas o storytelling parece tão natural que imaginamos que aquele processo de escrita tenha sido fácil.
No contexto da criação de histórias ficcionais, como na escrita de livros ou de roteiros cinematográficos, quando vemos o resultado pronto não imaginamos todos os obstáculos criativos que possam ter surgido no caminho.
Já escrevi dois livros de ficção como ghostwriter e, na minha percepção, é menos difícil criar uma história ficcional, com personagens e acontecimentos da trama, do que expor relatos pessoais no formato de crônicas, por exemplo, embora eu aprecie o gênero.
Então, trata-se apenas de uma questão de prática e treino para tornar o ofício menos penoso?
Uma questão de afinidade
Para algumas pessoas, andar uma hora na esteira pode ser algo tranquilo e faz parte da rotina, enquanto para outras pode ser um verdadeiro martírio. Da mesma forma, algumas podem ser mais propensas à escrita enquanto outras preferem lidar com números.
Assim, a relação entre afinidade com a escrita e o ato de escrever varia de pessoa para pessoa.
O processo de escrita pode parecer mais difícil em determinados contextos para alguém, como na criação de livros de ficção, devido à necessidade de desenvolver tramas, personagens ou universos imaginários.
No entanto, para outras, escrever no âmbito literário pode ser um processo mais fluido, especialmente em gêneros que se alinham mais com suas habilidades e interesses.
Além disso, a facilidade com a escrita pode estar relacionada à própria formação. Alguns indivíduos podem se sentir mais à vontade ao redigir textos técnicos, artigos informativos ou acadêmicos, enquanto outros se sentem mais à vontade para escrever poesias ou crônicas.
Porém, mesmo alguém que trabalhe com números pode ter afinidade com a escrita, o que a torna bastante democrática. Não é necessário sermos formados em Letras para que comecemos a colocar ideias no papel.
A compreensão das preferências e habilidades individuais pode ajudar a identificar os contextos nos quais a escrita parece mais fácil ou mais difícil para cada pessoa.
Nisso, acredito que o autoconhecimento desempenha um papel importante, porque a partir dele podemos encontrar nosso próprio caminho e saber o que faz mais sentido para nós escrever ou não.
Sobre a questão de ser fácil ou difícil escrever, vou apresentar a opinião de alguns autores.
A verdade sobre escrever: fácil ou difícil?
Charles Bukowski escreveu as seguintes linhas no livro “Poesia Essencial”:
“se você tiver que sentar por uma hora
encarando a tela do computador
ou curvado sobre a
máquina de escrever,
não faça.
(…)
se é trabalho duro,
não faça.
se você está tentando escrever como outra pessoa,
não faça.
(…)
não seja como tantos escritores,
não seja como tantos milhares de escritores
que se autodenominam escritores,
não seja tão chato e tedioso e
pretensioso, não se tranque no amor-próprio.
não mate as páginas de cansaço
com sua m*rda.
as bibliotecas do mundo já
bocejaram até dormir.
não se some a isso.”
Basicamente, ele nos leva a concluir que, se o ofício da escrita nos parece muito difícil, o melhor é deixá-la de lado. Por sua vez, George Orwell fala de sua relação com a escrita no livro “Por que escrevo”:
“Escrever um livro é uma luta horrível e exaustiva, como um longo período de alguma doença dolorosa. Ninguém jamais empreenderia tal coisa se não fosse impulsionado por algum demônio ao qual não se pode resistir nem compreender”.
Como você pode perceber, são visões que se contrapõem. Bukowski fala que a escrita deve fluir sem dificuldades, Orwell diz que escrever é desgastante, um eufemismo para “demônio”.
Isso me fez refletir sobre as ideias de William Zinsser, que foi professor de escrita de não ficção na Universidade de Yale nos anos 1970 e é e autor do livro “Como escrever bem”.
Ele conta a história de quando foi convidado a palestrar em uma escola sobre a escrita como profissão. Havia outro palestrante convidado, a quem ele atribuiu o pseudônimo de Brock.
Este outro palestrante relatou que a escrita era um passatempo, era algo divertido e, após um dia difícil de trabalho, ao chegar em casa, ele começava a escrever com fluidez porque era fácil.
Em relação ao exposto, Zinsser afirma no livro:
“Quando chegou minha vez de falar, eu disse que escrever não era divertido nem fácil. Era algo difícil e solitário, e as palavras raramente fluíam com facilidade (…) Eu disse, então, que um escritor profissional deve estabelecer uma rotina diária e se ater firmemente a ela. Disse que escrever é um ofício, não uma arte, e que um sujeito que abandona seu ofício por lhe faltar inspiração não se leva a sério. E pode acabar economicamente quebrado”.
Mais adiante no livro ele ainda diz o seguinte: “É provável que o maior medo do escritor de não ficção seja o de não dar conta da tarefa”.
Afinal, escrever deve fluir facilmente como dizem Bukowski e “Brock”? Ou é um emaranhado de impasses, como entendem Orwell e Zinsser? Cada pessoa pode ter uma relação pessoal de amor e ódio com a escrita, e não é uma ciência exata dizer se escrever é fácil ou difícil.
Talvez, um texto escrito facilmente por alguém tenha demandado anos de prática para que finalmente pudesse ter sido escrito em poucos minutos. E, mesmo assim, com os anos de prática, pode ser que ainda enfrentemos a tela em branco.
Qual a sua opinião? Escrever é fácil? As IAs eliminaram totalmente a dificuldade para escritores e redatores ou a página em branco e as nuances da escrita ainda vêm nos assombrar?
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