Como ter inspiração para escrever com a leitura de livros?

Segundo Thomas Edison, “talento é 99% de transpiração e 1% de inspiração”. Por sua vez, a falta de inspiração, quando acomete escritores ou redatores, pode se tornar um empecilho para que o fluxo dos pensamentos cumpra sua finalidade. Afinal, é preciso saber como ter inspiração para escrever?

Não sei se é necessário para você ou, de modo geral, para quem escreve. Antes, vou explicar o motivo da escolha deste tema. Não é nada muito extraordinário: semanas atrás eu estava com bloqueio criativo, que me deixou em um estado de alerta sobre o sentido das coisas. 

Descobri algo que já sabia, e que talvez não estivesse querendo admitir. Na verdade, eu não estava alimentando o banco de ideias com tanta frequência, nem estava buscando referências além das que utilizo no dia a dia do trabalho. 

Na maioria das vezes, este é o principal motivo para bloqueios de escrita. Mas existe uma boa notícia: os sintomas podem ser combatidos apenas ao separar alguns minutos do dia para nutrir ideias. 

Um hobby engavetado

Para que você entenda, há outra questão. Eu estou esboçando um novo projeto de publicação de um livro independente na Amazon, que não sei ainda se será com o meu nome ou com um pseudônimo. 

É um livro de poesias, porque gosto deste gênero que causa borboletas no estômago, embora em alguns casos possa causar abelhas. 

Reconheço que não são boas o suficiente, então, as antigas vou deixar engavetadas, porque não tenho vontade de melhorá-las. 

Mesmo com comandos específicos, eu teria muito mais trabalho para editar do que se eu escrevesse linha por linha. Além disso, a ideia é escrever poesia como um hobby, então não faria sentido usar IA. 

Essas poesias que estou escrevendo não são nada parecidas com as de Cecília Meireles, Hilda Hilst, Florbela Espanca ou Sylvia Plath, embora eu goste dessas autoras. Na verdade, são apenas um passatempo e um exercício que não me demanda esforço intelectual. 

É uma forma de me distrair, tal qual o hábito da leitura, para me desconectar do que quer que seja praticando algo que serve de terapia. Afinal, a escrita pode ser terapêutica. 

Como disse Emmanuel Carrère:

“Isto talvez seja o que de mais interessante existe na vida, tentar saber isto: o que é ser outra pessoa que não você. Esse é um dos motivos pelos quais se escrevem livros; o outro é descobrir o que é ser você mesmo”.

Eu, poetisa?

como ter inspiração para escrever com livros

A questão é que algo em mim foi despertado e surgiu a vontade de voltar a escrever poesias. Será que é porque desde o ano passado ou retrasado tenho lido bastante este gênero, em especial autores nacionais e não tão conhecidos? 

De onde veio essa ideia de retomar um hábito esquecido? Vou falar sobre isso mais adiante! Mas posso dizer que a ideia veio a partir da leitura de um livro que não é de poesia e nem tem como foco principal a escrita. Como isso é possível? 

O que eu quero não é necessariamente ter alguma denominação de escritora com uma publicação na Amazon, e sim exercitar um hobby que serve de respiro para o dia a dia. 

Portanto, queria ter fontes de inspiração sobre o que escrever. Somado ao fato de que meu banco de ideias estava relativamente abandonado, resolvi escrever um artigo de blog sobre como ter inspiração de temas para textos criativos.

Vou falar sobre a questão a partir da ideia de que ler diferentes gêneros de livros pode ajudar no processo criativo. Será que ajuda mesmo? 

Já quero deixar claro que esta não é uma verdade única, existem muitas outras fontes de inspiração além dos livros, mas este será o tema do artigo. 

Entenda como ter inspiração para escrever

 

como ter inspiração para escrever

Assim como ter ideias para escrever não é uma constatação matemática, ler livros não é uma jornada linear. Muitas vezes, pode surgir uma relação de amor e ódio com os livros, que têm o poder de provocar reflexões e levar a uma montanha de sentimentos e formas de perceber a vida. 

Ler livros de diferentes gêneros 

Para ter inspiração para escrever, eu sei que esta dica é útil, mas não significa que seja 100% aplicável. Vou explicar. Eu não gosto nem um pouco de sair da minha zona de conforto para ler livros com os quais não tenho afinidade. 

Eu já sei de quais livros gosto e, portanto, na maioria das vezes busco ler apenas os mesmos estilos que me distraem sem que eu veja o tempo passar. 

Quando estou lendo um livro e a leitura não flui, torna-se um verdadeiro desafio, para não dizer martírio (na maioria das vezes abandono). 

Porém, há um ponto a considerar. Os gêneros que me atraem variam com o tempo. Quando não estou mais em alguma outra época, surpreendo-me por não gostar mais de um estilo que antes preenchia horas do meu lazer introvertido. 

Afinal, até que ponto ajuda mesmo tentar sair da zona de conforto no que se refere aos estilos literários preferidos? Vou compartilhar um pouco da minha experiência. 

Fantasia

De vez em quando, eu tento ler livros de gêneros com os quais não tenho afinidade e, na maioria das vezes, o que acontece é o tédio que se instala entre as paredes; fico pensando: por que estou me submetendo voluntariamente a este livro?

Por exemplo, nunca gostei de livros de fantasia. Mas, para confirmar se não era mesmo meu estilo, tentei ler o best-seller “Trono de Vidro”, de Sarah J. Maas, um livro que tem uma infinidade de fãs, e o resultado foi que não consegui me envolver com a história. 

Young Adult

Há uns três ou quatro anos, eu lia com bastante frequência Young Adult. Li vários livros da Colleen Hoover, da Brittainy Cherry e outras autoras. 

Porém, no início deste ano, tentei ler um livro CoHo, o “É assim que começa”, continuação de “É assim que acaba”, cuja leitura foi tranquila para mim, e fiquei pensando: “que livro chatíssimo!”. 

Será que não gosto mais de YA? Eu amava. Aconteceu também com outro livro YA, o “Um amor de CEO”, da autora Anne Krauze. 

O livro tem mais de 700 páginas e cheguei a ler mais de metade ano passado. Quando estava entretida nele, gostei muito do desenrolar da narrativa. Achei a leitura bem divertida. 

Porém, fiquei alguns meses sem retornar a este livro, acredito que por falta de tempo, talvez, e, quando retornei, não me interessava mais pelos personagens e não queria mais saber daquela história! 

Se eu não o tivesse abandonado na época em que o estilo YA ainda estava no meu rol de preferências, talvez eu até o tivesse considerado um dos meus livros favoritos. 

Muitos livros desse estilo eram os que mais me entretiam. Aquela famosa sensação de:

  • não conseguir largar o livro;
  • ficar aborrecida com a ideia de ter que trabalhar e não poder continuar a leitura do livro durante as horas de trabalho;
  • a curiosidade para saber qual será a reviravolta ou o desfecho;
  • enfim, a vontade de aproveitar ao máximo aquela leitura sem interferências. 

Porém, não gostei da leitura de um livro da autora que era minha preferida e de outro que, antes, me fazia não ver as horas passar. Abandonei essas leituras. 

Mas o que isso tem a ver com ter inspiração para escrever? Para retomar, estou falando sobre o hábito de ler diferentes estilos literários e se isso é viável ou não para ter inspiração na escrita. Você vai entender o raciocínio, continue lendo. 

Suspense policial

como ter inspiração para escrever

Outro exemplo. Eu não gosto de ler livros de suspense policial, mas lia bastante o Sidney Sheldon na adolescência. Era um dos meus autores preferidos. 

Para tentar validar meu gosto por livros policiais, tentei ler há um tempo Agatha Christie e Harlan Coben, dois grandes nomes do estilo, e não gostei das histórias, mesmo que ambos tenham uma legião de admiradores. 

Há livros do Sidney Sheldon que não li e nem tenho vontade mais de ler. Talvez seja algo que aconteça com todos os leitores: amar um estilo e depois não ter mais nenhum interesse nele. 

Algumas exceções do gênero foram “A paciente silenciosa”, de Alex Michaelides, e “Entre quatro paredes”, de B.A. Paris, que são romances policiais de suspense que conseguiram captar bem minha atenção. 

Chick-lit

Outro gênero que muitas mulheres amam é chick-lit e, neste quesito, eu nunca consigo passar das primeiras vinte páginas. 

Mas, como já disseram que pode ser benéfico ler diferentes gêneros, já tentei ler alguns chick-lits, como “Fiquei com seu número”, da Sophie Kinsella, e achei um dos livros mais enfadonhos já escritos.

Ler diferentes gêneros pode ajudar a ter inspiração para escrever?

como ter inspiração para escrever

Quanto a esta questão, não se pode dizer que eu não tenha tentado. Já li biografias, livros históricos sobre diversos temas, livros policiais, romances de época, romances contemporâneos, psicologia, poesias, realismo fantástico, mangás e HQs, clássicos, terror, entre outros.

O escritor Ray Bradbury disse o seguinte:  “Escreva todos os dias da sua vida. Leia intensamente. Então veja o que acontece”. 

Mas ler outros gêneros é útil para sair do bloqueio de escrita, considerando que sequer temos vontade de conhecer aquele estilo? A resposta mais intuitiva seria não, não nos ajuda. Afinal, por que precisamos nos sentir obrigados a ler sobre algo que não necessariamente gostamos? 

Surpreendentemente, há algumas semanas li um livro que estava completamente fora da minha zona de conforto e me senti bastante confortável, inspirada e, além disso, com vontade de escrever. 

Você já leu um livro e pensou: eu queria conseguir escrever como este autor algum dia? Não que eu queira escrever exatamente como este autor, mas ele conseguiu me trazer insights e desbloqueios de escrita, mesmo que essa não tenha sido a intenção primordial do livro. 

O livro é “Ioga”, de Emmanuel Carrère. É um tipo de livro que eu nunca leria apenas ao conhecer a sinopse, porque não sou praticante de ioga e meditação.

Eu resolvi ler o livro depois de ver um elogio de Aline Bei à obra, dizendo que este seria um livro favorito dela por bastante tempo. Como sou fã dos livros da Aline Bei, li “Ioga” em setembro e ele se tornou um dos meus favoritos, mesmo que os temas tratados não sejam os que costumo ler.  

Existem certas formas de escrita que nos cativam, independentemente de quais sejam os assuntos. Inclusive, esta é uma das constatações de William Zinsser no livro “Como escrever bem”. 

O livro Ioga tem uma cadência que me hipnotizou! Eu queria saber que coisas interessantes uma após a outra Carrère teria para me dizer, suas perspectivas, opiniões e vivências. Nem todo autor é capaz de nos entreter dessa maneira. 

Outro escritor que um dia já esteve fora da minha zona de segurança é Dostoiévski. Eu sempre acreditei que, por ser um clássico, e por ser relativamente denso, eu não conseguiria me sentir imersa em suas obras ou em sua forma de escrita. 

Mas, se eu já gostei até de Proust, por que eu não gostaria de Dostoiévski? Hoje ele é o meu autor clássico favorito, embora a experiência de leitura de “Os Irmãos Karamazov” esteja se arrastando pelos meses, continuo lendo outros dele e não me canso de admirá-lo.

Ele consegue trazer uma sensação que não sei explicar bem, é como se algum vazio fosse preenchido ao fim daquela leitura, e nem sempre isso acontece com outros livros. 

Conclusão

Não é por que você gosta de um estilo literário hoje que você gostará deste estilo amanhã. Além disso, não necessariamente ler diferentes estilos literários contribuirá para ter inspiração para escrever. 

Pelo menos, é o que tem acontecido comigo e entendo que cada pessoa que pratica o hábito da leitura tem uma experiência própria, que pode ser diferente da minha.

No entanto, ler diferentes estilos pode ajudar a:

  • melhorar vocabulário;
  • ter ideias para textos em diferentes abordagens;
  • estimular a criatividade;
  • desenvolver a concentração;
  • aprender técnicas de escrita;
  • melhorar a velocidade de leitura;
  • saber o que não o atrai;
  • ter novas perspectivas;
  • desenvolver senso crítico;
  • treinar a escrita criativa;
  • descobrir diferentes jeitos de escrever um texto;
  • melhorar as habilidades de escrita.

Tudo bem, sei que esses pontos já são muito difundidos. Mas escrevi este texto para compartilhar o fato de que, mesmo lendo um livro que seria um tema com o qual eu não tenho afinidade, ele me despertou, sim, a vontade de escrever. Estou falando do “Ioga”. 

Tanto que resolvi voltar a escrever poesia depois de ter lido o Carrère. Ele não fala sobre poesia, mas fala esparsamente sobre sua experiência enquanto escritor, e isso foi suficiente para despertar algo que estava adormecido em algum lugar da minha existência. 

Por fim, ler diferentes estilos literários pode ser vantajoso quando você não se sente mais conectado a um determinado estilo e pode descobrir outros mais interessantes. 

Mas, para isso, pode ser que você se decepcione no caminho ao ler livros que não façam sentido para você ou pode ser que a leitura desperte novos aprendizados e descobertas antes não imaginadas. 

Para a escrita criativa, ler diferentes gêneros é bom para descobrir sobre o que não quer escrever e para ter ideias de histórias para escrever sobre o que você tem vontade.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Nenhum comentário